Brasileiros conquistam o mundo com a levada do blues
por Igor Férva e Lívia Gusmão
publicado no site http://www.teiacultural.com.br/
É hora de baixar as luzes e criar um clima mais intimista. Chega pra cá que agora o assunto é blues. E para quem acha que falar desse ritmo no Brasil é difícil, não conhece a Igor Prado Band, considerada uma das maiores revelações no gênero e, merecidamente, uma das melhores do país. Além do homônimo deste humilde repórter, Igor Prado, que é vocalista e guitarrista, a banda também conta com Yuri Prado (irmão de Igor) na bateria, Rodrigo Mantovani no contra baixo acústico e Denílson Martins no saxofone barítono.
Essa galera do ABC paulista – mais precisamente São Caetano do Sul- é tão boa, que no ano passado o álbum Brazilian Kicks, feito em parceria com o americano Lynwood Slim, foi o segundo mais tocado numa rádio especializada em blues no EUA. Três anos antes, em 2007, a banda já figurava entre as melhores do “mundo do blues” em eleições promovidas por duas revistas especializadas, a Real Blues e a Blues Matters. Além de Lynwood Slim, a Igor Prado Band já dividiu o palco com outros feras como Steve Guyger, R.J Mischo, Mark Hummel, Phil Guy, entre outros. Por email, Igor Prado, que também é produtor musical, concedeu uma entrevista à Teia Cultural. Confira como foi o bate papo:
TC – Há quanto tempo estão na estrada?
IP – Já está fazendo quase 11 anos.
TC – Qual foi a sensação de terem um álbum de vocês escolhido como um dos melhores do ano 2007 pela revistas Real Blues e Blues Matters?
IP - Primeiramente foi uma surpresa. Esse disco foi feito com muito zelo incluindo gravações de 2005, 2006 e 2007, várias participações especiais, saxofone gravado em Los Angeles por um dos mais respeitados músicos da cena de Los Angles, quando saiu o disco e recebemos todos esses prêmios. Foi como uma sensação de dever “mais” que cumprido.
TC – Como vocês encaram o cenário brasileiro para o Blues?
IP - Ah, eu acredito que está crescendo, há alguns anos estava bem pior, mas os festivais estão surgindo o respeito e o intercâmbio com músicos e festivais de fora por artistas brasileiros está crescendo como nunca. Eu vejo um lance positivo na cena atual. Espero que continue nessa crescente.
TC – Sentem falta de maior reconhecimento no Brasil?
IP - Eu sinto falta de maior exposição, o reconhecimento a gente tem, mas para termos reconhecimento precisamos ter mais alcance. O que essa geração nova do blues está fazendo é histórico. Estamos dividindo atenções em grandes magazines e da mídia especializada americana, isso já é fato consumado.
TC – Quem são os músicos que mais influenciam a banda?
IP – Putz, são muitos. Impossível descrever tanta coisa e não só do blues, estamos ouvindo muita coisa de rhythm blues, funk e soul music atualmente, mas claro sempre com o blues tradicional na base de tudo, disso não tem como a gente se distanciar. Aprendemos a tocar guitarra, baixo e bateria só ouvindo, estudando e tirando esse tipo de música. É impossível não ter a cara blues até quando eu toco “terrivelmente” uma bossa nova (risos).
TC – Nestes anos na estrada, tiveram alguma apresentação que julgam como inesquecível?
IP – Ah teve várias coisas legais, mas uma das mais foi o Doheny Blues Festival, considerado hoje um dos 3 maiores dos EUA, dividimos a noite com Kim Wilson, Robert Cray, The Black Crows e Crosby, Still & Nash. Parecia um sonho.
TC - Vocês acham que algum dia o blues voltará ao mainstream?
IP - Acredito que hoje em dia exista um gênero bem definido e enlatado que podemos chamar de “Gênero mainstream“, todas as bandas, soam muito parecidas para aquele tipo de estética de rádio, TV e MTV. Tudo tem a mesma cara, mesmo sendo rock, rhythm blues e até o rap.
E não é só o blues não, mas as músicas realmente de raiz, citando aqui no Brasil, o choro, o samba de raiz e a bossa nova não voltarão ao mainstream. Essa é minha humilde opinião diante no cenário musical brasileiro e mundial.
TC – No ano passado a álbum de vocês, “Brazilian Kicks”, chegou a ser o segundo mais tocado numa rádio americana especializada em blues. Certo? Vocês esperavam tamanho sucesso?
IP - Na verdade ele chegou a ser o segundo mais tocado em todo o território americano. A revista Living Blues tem um chart que pega os principais programas de rádio dedicados ao blues de todo o EUA e alguns da Europa também. Pra gente foi a maior surpresa e, com certeza, um dos pontos altos da nossa carreira. Um feito histórico para uma banda de blues da América do Sul.
TC – Já compôs ou já pensou em compor alguma música em português?
IP - Eu já pensei, mas ainda não tenho essa habilidade em compor blues em português. É muito difícil de passar uma mensagem legal em português dentro dessa estética, mas tem uma galera aqui no Brasil que faz isso muito bem.
TC – Algum músico, ou alguma música, genuinamente, brasileira influencia a banda?
IP – Ah, existem vários, não temos nenhum tipo de preconceito musical, amamos nossa música brasileira. Eu especialmente tenho uma paixão pelo choro , apesar de não tocar nada, porque eu cresci ouvindo meu pai e meu tio tocando choro na sala de casa, então isso é muito forte dentro de mim, mas também enquanto eles não tocavam, meu pai colocava na vitrola, Little Richard, Chuck Berry aí deu no que deu (risos).
TC – Muitos especialistas os consideram uma das maiores revelações blues dos últimos anos. Como encaram este peso e esta responsabilidade?
IP - Ah, pra gente é uma honra, é o que fazemos desde muito novo, colecionamos álbuns, sempre estamos tentando escutar e absorver tudo dessa linguaguem que é o blues tradicional, tão vasta, extensa e difícil, como um tio meu fala: “Se você quer isso para sua vida, viva essa música intensamente”. A gente tá sempre ouvindo descobrindo e estudando o blues tradicional e absorvendo o máximo o possível com os músicos americanos mais velhos que têm tanta coisa para contar e passar.
TC – Quais os planos para o futuro?
IP - Estamos numa vibe bem rhythm blue & soul atualmente, fazendo esse mix com o Blues. Estou trazendo para o Brasil uma cantora negra de soul chamada Tia Carroll, ela é uma das novas sensações desse meio underground da black music, e também o saxofonista Sax Gordon Beadle outro “monstro” que já tocou e gravou com praticamente toda a velha guarda do blues e rhythm blues. Estamos envolvidos juntos num projeto de um DVD/CD fazendo um tributo aos mestres da soul music e rhythm blues.
TC - Se todos estivessem vivos e você pudesse escolher apenas um para dividir o palco, quem escolheria? Robert Johnson, Muddy Waters ou BB King?
IP – Nossa, pergunta difícil. Mas responderei: RAY CHARLES (risos)!
Nenhum comentário:
Postar um comentário